Barulhos do Invisível

sexta-feira, 5 de março de 2010


[Mini-Conto] Barulhos do Invisível

Quando eu era mais nova, não conseguia dormir bem. Um simples medo do escuro... 

Mas, acima de tudo, o medo do escuro era causado por coisas que eu via e barulhos que ouvia na escuridão.

Acordava de repente no meio da noite, como se alguém tivesse puxado meu braço ou meu tornozelo. E então ouvia alguém cantar, ou quebrar alguma coisa, ou caminhar pelo quarto, pensativo.

Chamei aquilo, ou aqueles - ou nada, quem sabe, né? - de Invisível, achei o nome mais apropriado possível na época.

Mais uma vez, Invisível me acordou no meio da noite, mas percebi que ele havia deixado alguma coisa sob minha mão. Segurnado aquele presente, liguei a luz do quarto e vi que era um pedaço rasgado de papel, provavelmente algum documento do meu pai.

Do lado oposto ao que havia letras impressas, estavam alguns garranchos, que outrora se tornavam a caligrafia mais bela de todas, e depois voltava a ser um garrancho e novamente e assim por diante, num estranho delírio de letras.

A carta dizia o seguinte:

"Olá, sinto muito por acordá-la. Queria, antes de mais nada, agradecer por ter deixado eu morar aqui no seu quarto. As outras crianças costumam chamar seus pais e eu acabo sendo expulso.

Em segundo lugar, queria me desculpar por acordá-la tão tarde. Sei que você deveria ter oito horas de bom sono, para crescer saudável, mas tenho dois bons motivos pra lhe acordar. Um deles é que esse é o meu dever, o outro eu explico logo em seguida.

Já me desculpei, agora queria pedir um favor. Por favor, se tem amor a mim e a si mesma, não volte nunca mais a dormir. Seus sonhos são tão mágicos, me dá vontade de bebê-los, mas sei que isso irá fazer você morrer de forma dolorosa, então eu me seguro. Não durma mais!

De seu amigo Invisível"

Já se passaram dias, desde que li aquela carta. Não dormi mais. Talvez por medo de morrer, talvez por medo de nunca mais sonhar. Me sinto fraca, não vou mais agüentar.
Boa-noite.

-Fim

De 

Holy


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