O meu óculos de mergulho profissional

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fonte : http://mundobizonho.blogspot.com/2009/01/o-meu-culos-de-mergulho-profissional.html


A história a seguir é daquelas "traumas de infância", e me deixou muito triste por um bom tempo.Bom, uma coisa é fato: De todas as crianças que um adulto pergunta o que ela quer ser quando crescer, a maioria diz que quer ser médico, veterinário, jogador de futebol, astronauta e mais uma porrada de clichês infantis. Ah! outra profissão clichê entre os pivetes é "cantor"Mas eu não, eu era diferente, queria ser mergulhador!Numa época eu torrei a paciência da minha mãe e do meu avô para eles me comprarem um óculos de mergulho para eu dar umas mergulhadas. Até que esse dia chegou. Confesso que não era nenhum óculos profissional, vinha até com aquele caninho preso ao lado para poder respirar debaixo da água, mas o do meu parecia mais um tubo de PVC pintado de preto que logo na primeira vez em que eu fui à praia com ele e tentei ficar sem respirar eu quase morri afogado. Mas isso não importava pra mim, sei que meu avô e minha mãe deram ele para mim com o maior carinho do mundo, então isso o tornava o melhor do mundo pra mim.Um dia, uns parentes do meu vô que estavam um tempo sem dar uma visita ligaram pra minha casa e disseram que iriam passar um fim de semana lá para matar a saudade. Até aí tudo bem, pois nem me lembrava deles.O dia da visita chegou e à primeira vista eles me parecerem mega simpáticos. Tinha um dos sobrinhos do meu vô que no momento não recordo o nome dele, acho que é Mauro, começou a conversar com ele sobre mergulho e então meu avô disse:-Meu neto quer ser mergulhador, sabia?-Nossa, não sabia, que legal! Exclamou ele.Logo depois meu avô me chamou para a conversa e lá ouvi muitas histórias, o Mauro era mergulhador profissional, tinha fotos ao lado de tubarões gigantes!Conversa vai, conversa vem e ele me disse:-Pera ae que eu tenho um presente pra vocêE logo fiquei pensando do que se tratava...Derepente ele chega com um puta óculos profissional que ele usava, era importado e era muito bonito, só não tinha aquele negócio preso ao lado para respirar mas isto não o fazia parecer menos profissional. De cara, educadamente recusei o presente, dizendo que era muito caro, então ele argumentou me dizendo que possuia vários, que eram os patrocinadores que lhe davam os óculos de mergulho. Então eu, que sou bobo mas não sou burro coloquei minhas mãos naquele óculos e quase tive um piripaque de tanta alegria. Fui para os fundos da casa e não aguentei a ansiedade, enchi um daqueles barris de água, coloquei o óculos em minhas fuças e coloquei a cara água abaixo. Não via a hora de estreiar esse tesouro no mar poluído de minha cidade.E isto não demorou a acontecer. Confesso que até me exibia com o óculos. Sempre quando mergulhava ficava imaginando por quantas coisas e aventuras esse óculos já não passou. Eu não gosto muito do termo "óculos", pois logo já imaginam aqueles óculos vagabundos de natação, sim, aqueles que apertam os olhos e os deixa parecendo um sapo pipa. O meu era mais uma "máscara", pois cobria metade do rosto. Lembro que ele era vermelho, todo imponente.Mas a história ainda não começou, essa foi só uma prévia. Agora é que ela começa:Era chegado então mais um fim de ano, verão, o calor insuportável que faz até você perder a vontade de dar um barrão no banheiro mesmo que seja a pior dor de barriga que você já enfrentou devido ao clima quente que te faz suar pra caramba. Tirando essa parte ruim, eu achava essa a melhor época do ano, pois minha tia e meu tio e minhas primas sempre iam passar as férias lá onde eu morava, ou seja, no litoral. Eu sempre gostei quando eles passavam as férias lá porque apesar de eu ter primAs elas eram meio "moleques", não que elas fossem meio sapatões, mas sim porque elas aprontavam bastante, então quando juntava todo mundo já viu né. Mas por pouco eles não vão para lá. Acontece que nessa época eles estavam meio sem grana, até que a minha prima Jessica achou uns 800 reais na rua (impressionante como ela tem sorte para achar dinheiro na rua, essa nem foi a primeira vez), e então eles fizeram a viagem tão esperada. Uns dias antes o telefone toca, e era a minha tia:-Nós estamos indo aí dia 26 de dezembro, ok?-Ok, estamos esperando por vocês. Respondeu minha mãe.Até que minha tia completou:-O primo do Marcos (meu tio), o Rogério vai também e vai levar toda a família dele.Bom, é claro que nós não iriamos falar que ele não poderia vir, mas acontece que são poucas as pessoas que vão passar as férias de fim de ano em sua casa e te ajudam, eu já estava até vendo minha mãe trabalhando que nem uma filha da puta e os "bunitinhos" sem fazer nada. E nessa época os filhos dele eram dois malas, o Mala e o Malinha (caso não percebeu, são nomes fictícios), e iam lá só para jogar o meu humilde video game (nem playstation era) que minha mãe ainda pagava. Meu vô não gostou muito, pois na família dele eram todos espanhóis e sempre houve uma certa rivalidade entre italianos X espanhóis.Eu lembro que eu estava no banho quando eles chegaram, só ouvi a gritaria, porque tanta gente junta não deixaria de fazer aquele típico escândalo. Logo de cara a minha prima tava com um saco de supermercado na mão e fiquei curioso para saber o que era...Vou me aproximando, me aproximo mais e simultaneamente vou sentindo um puta de um fedô, quando vejo é o vomito dela, puta coisa nojenta, parecia carne moída, lembrava essas fotos de acidentes de atropelamento no qual as vítimas parecem que foram colocadas numa máquina de moer carne. E minha prima como sempre foi peralta fez questão de pegar o saco nojento (com detalhe para um líquido meio amarelo transparente pingando) e fazer que ia atacar nos outros, ela estava brincando, mas como era meio louca eu saí correndo como se estivesse fujindo de um T. Rex.O primo do meu tio pareceu ser legal(eu já havia visto ele antes, mas não me lembrava), lembro que na hora que olhei para ele me deu a impressão dele ser um ser híbrido entre o Al Capone e o pinguim do filme do Batman, o Oswald Coblepot. Ele parecia também um ogro igual ao que mostra nesses filmes medievais, acho que o filho dele mais novo, o Malinha, havia puxado mais a ele, pois já parecia mais com o Smeagle. A mulher dele era feia que doía. Era mais branca que não sei o que e tinha um cabelo pixaim e era magra pra cacete, essa já era mais uma mistura da Dona Florinda com a Negra Li.Logo depois deles terem chegado já estava todo mundo na praia, esta, infestada de farofeiro por sinal. A praia era um inferno nessa época, na água só se via sujeira. Lembro que vi uma fralda que nem parecia a clássica "freiada de bicicleta", aquilo tava mais para uma freiada de Panzer, acho que foi algum adulto que a usou. Tinha até absorventes e camisinhas usadas. Mas algo que me deu mais nojo foi um toboco que estava boiando. Eu lembro que minha prima havia dado um mergulho e quando ela levantou soltou um berrinho. Rapaz, quando eu olho é um puta de um cagaroço gigante que nós nem acreditamos que aquilo havia saído de um ânus normal, a pessoa certamente sofreu para colocar aquilo pra fora.Os dias foram se passando até que chegou o dia 31 de dezembro, era Reveillon e fiquei praticamente o dia todo sem comer só para detonar o rango quando chegasse a hora. Como de costume, aquela clássica queima de fogos logo à meia-noite começou deixando todo mundo surdo.Depois da festa, no dia seguinte aconteceu a desgraça.Era 01 de janeiro e para variar já tava todo mundo na praia. Eu, minha irmã, minhas primas, minha tia e meu tio, Al Coblepot e Florinda Li junto de seus filhos lazarentos insuportáveis frescurentos que comiam pizza de muzzarela sem molho.A criançada já tava na água. E eu lá, com o meu óculos ultra-mega-plaster-bombástico-profissional que certamente o Indiana Jones aceitaria usa-lo. Eu vi que tinha umas garotas por perto, e como todo moleque idiota que possui a "síndrome do pavão tarado" que só pensa em se exibir para pessoas do sexo oposto, eu decidi ir mais para o fundo e dar aquele mergulho profissional para que as achassem que eu era corajoso. Na verdade não era, confesso que quando eu vi a água já passando o meu umbigo já fiquei com o c* na mão, pois o mar estava bem agitado. Vi uma puta de uma onda vindo e já pensei "É essa!". Coloco o óculos e faço aquela cara de corajoso. A onda vem e eu mergulho. Foi a onda mais brutal que eu ja vi na minha vida, senti até uma leve dor no corpo por causa dela, quando derepente eu percebo que a porra do óculos sumiu! Eu volto para o guarda-sol quase chorando e explico o que aconteceu. Todos vão para a água para verem se encontram o óculos. Claro que fizeram isso só para me animar, num mar daqueles a chance de recuperar o óculos é de 100 em 1 milhão. O desespero já havia tomado conta de mim, lembro que eu já estava la no fundão, quase me afogando pois ali já não dava mais pé. Eu estava vivenciando uma daquelas horas que as pessoas dizem: "Se isto acontecer Deus, eu serei eternamente grato ao senhor", eu só pensava no óculos, mesmo sabendo que as chances de reencontra-lo eram remotas. E eu quase morrendo afogado, indo cada vez mais para longe.Derepente o milagre acontece. Ouço a Florinda Li gritar numa distância de mais ou menos 70 metros:-Achei o óculos F.! (F. é o meu nome)Achei!.Naquele mesmo segundo eu passei a acreditar em milagres, não acreditava que estava vendo meu óculos há alguns metros de mim. Aí que eu quase me afoguei de vez, a emoção era tanta que minhas pernas amoleceram e toda a minha energia que restava se foi. Aquilo já era quase um game-over, se não fosse o fato de ter achado meu óculos. Nessa mesma hora eu não acreditei no que eu estava vendo...Tente advinhar o que aconteceu, te dou alguns segundos...
PAUSA DRAMÁTICA...Eu não acreditei. Quando eu olho a Florinda Li estava segurando meu óculos com a mão direita por aquele borracha para prende-lo na cabeça, ainda simultaneamente eu penso o que ela vai fazer, até que ela grita:-Segura seu óculos, F. !!!Eu pensei se tratar de um pesadelo, quase apertei meu próprio bago para ver se não estava em um. Derepente ela ataca meu óculos em minha direção. Todos gritam "NÃÃÃO!!". A força que ela atacou foi tanta que nunca iria imaginar que daqueles bracinhos mirrados saíria tanta força. Eu só me concentrava em pegar o óculos. Impressionante como na hora tudo aconteceu tão rápido e relembrando parece que tudo foi em câmera lenta, quase uma eternidade. Eu me senti como o Jordan naquele jogo no qual o time dele perdia por uma diferença de 2 pontos até que faltando pouquissímos segundos para o apito final tocar ele arrisca uma de 3 pontos do meio da quadra. Me veio esta imagem à cabeça. O óculos vindo em minha direção, até que ele chega e esbarra em minha mão esquerda, na hora pensei "Consegui, porraaa!", até que veio mais uma onda brutal que me separou do meu óculos e me levou quase para o razo. Lembro de ter ouvido o Al Coblepot berrar na praia:-Minha mulher é uma burra! Sua anta patagônica!! O que você tem na cabeça???Eu me perguntava:O que faz uma pessoa atacar o óculos para alguém que estava há mais de 40 metros longe quase se afogando? Por que ela não segurou o óculos e esperou para me devolver? Por que aquele povo tava lá, sendo que nem meus parentes eram? Por que minha prima foi achar aquele maldito dinheiro? Por quê?!Eu cheguei à superfície quase desmaiado. Aos choros. Aquela vaca dos infernos tentou se desculpar. Depois o Al Coblepot disse que me compraria um outro bem melhor e pediu mil desculpas. Passaram-se os dias e eles foram embora. Agora, vocês acham que eles me trouxeram outro óculos? Esperei por anos e nada, nunca mais tocaram no assunto. Isso me deixou extremamente puto e triste, quando eu lembrava da cara daquela bruaca eu sentia vontade de socar a cara mirrada dela.Depois de superado isso, eu nunca mais quis ser mergulhardor. Depois eu sonhei em ser jogador de futebol, mas essa é outra história e depois conto aqui sobre a escolinha de futebol que eu entrei. Foi muito triste mas hoje eu até dou umas risadas quando lembro.


FIM

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